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Arquitectura Bioclimática
Professor Manuel Correia Guedes
11 de Abril de 2005
Sumário
É hoje amplamente aceite que o consumo energético associado ao uso
de fontes de energia não renováveis, como o petróleo ou o carvão, é
responsável por sérios danos ambientais, como a poluição atmosférica,
o aquecimento global e a destruição de recursos naturais.
O objectivo prioritário da arquitectura bioclimática, por vezes tambem
designada por "arquitectura solar", é a minimização do consumo energético
para manutenção do conforto ambiental dos edifícios, recorrendo ao uso
de estratégias de design passivo, i.e. reduzindo a necessidade de utilização
de meios mecânicos de climatização ou iluminação através de uma sábia
adaptação do edifício ao contexto climático local.
O estudo de estratégias de design passivo desenvolve-se principalmente
a partir da crise do petróleo dos anos 70, em países industrializados
do norte da Europa e EUA. Era motivado na altura essencialmente por
preocupações de ordem económica; nas duas últimas décadas o enfoque
passou para os problemas ecológicos associados ao consumo energético.
Muitas das estratégias de design passivo, como ventilação natural,
o uso da inércia térmica, sombreamento, orientação solar, etc. são no
fundo uma adaptação de técnicas seculares a exigências contemporâneas.
Este saber, com algumas excepções, foi sendo progressivamente posto
á margem da prática e do ensino da arquitectura desde a implantação
do movimento moderno: a energia era barata e não existiam as preocupações
com problemas ecológicos que hoje partilhamos - encontramos, como consequência,
o recurso extensivo á climatização e iluminação artificial em milhões
de edíficios "Estilo Internacional" disseminados pelo mundo inteiro,
inteiramente dissociados do contexto climático local. È contudo importante
frisar novamente que houve casos de excepção - na génese de muitos dos
projectos de grandes arquitectos modernistas como Frank Lloyd Wright
ou Le Corbusier estiveram preocupações de ligação do edifício ao meio
natural - resolvidas com recurso ao design passivo, em soluções estéticamente
muito criativas.
Podemos, de facto, considerar que existem duas formas distintas de
um edifício se relacionar com o seu contexto: uma forma "exclusiva",
em que o edifício se fecha em si mesmo, não aproveitando os recursos
climáticos - como nas "Torres de Vidro Estilo Internacional", uma abordagem
infelizmente ainda muito comum nos nossos edifícios de serviços; e uma
forma "selectiva", procurada pela arquitectura bioclimática, em que
o edifício funciona, como um organismo vivo, em permanente diálogo com
a sua envolvente climática, beneficiando, de maneira controlada - selectiva
- da radiação solar para aquecimento ou iluminação, força e direcção
dos ventos ou brisas para ventilação, etc.
Assim, as soluções de concepção bioclimática passam sempre por uma
análise aprofundada do contexto climático local. No caso de Portugal
é fácil adivinhar uma grande diversidade de soluções de design bioclimático
- dada a relativa variedade do nosso clima - em parte reflectida, por
exemplo, na nossa arquitectura popular. Contudo, de forma geral, podemos
identificar um número significativo de técnicas e principios comuns
aplicáveis ás várias regiões do país, tal como a outras situações no
sul da Europa - como ventilação nocturna (para arrefecimento no Verão)
associada a inércia térmica e isolamento adequados, bom dimensionamento
da area de envidraçado, correcta orientação solar, controle da profundidade
do edifício, bom sombreamento, etc.. A aplicação apropriada de muitas
destas técnicas resume-se em duas palavras: BOA CONSTRUÇÃO.
Portugal tem um clima privilegiado, temperado, em que o uso de climatização
artificial é muitas vezes injustificado, se a concepção arquitectónica
for correcta. O mesmo se aplica em termos de iluminação artificial:
tal como os nossos parceiros sul-europeus gozamos de níveis óptimos
de radiação solar, que não justificam, nos termos em que é feita, a
importação acrítica de "Torres de Vidro Estilo Internacional".
Os chamados sistemas activos de baixo consumo energético, como o fotovoltaico,
o solar térmico, ou sistemas híbridos de evaporação, oferecem tambem
um grande potencial para a redução do consumo de energia proveniente
de fontes não-renováveis. Contudo, apesar da tecnologia estar disponível
e amplamente testada, e de haver no território condições excelentes
para a sua utilização, o seu aproveitamento permanece ainda embrionário
face a países com niveis bem menores de radiação solar, como a Alemanha
ou a Dinamarca. A integração destes sistemas na estética do edifício
é um interessante desafio ao arquitecto.
A arquitectura bioclimática insere-se profundamente numa visão de sustentabilidade
global. Neste sentido, o processo de concepção integra ainda questões
ligadas ao impacto ambiental e socio-económico do edifício nas suas
várias fases de existência. Por exemplo, o controle na selecção e utilização
de materiais que necessitam de muita energia para serem produzidos,
como o aluminio, o aço, o plástico ou o vidro, dando preferência a materiais
de produção mais económica, como a terra (ex. construção em adobe, tijolo,
taipa), alguns tipos de betão, ou madeira (de florestas sustentáveis);
A preferência pelos recursos materiais e humanos locais, promovendo
o desenvolvimento regional e diminuindo o impacto ambiental dos transportes.
É tambem essencial considerar o tempo de vida do edifício, que deve
ser o mais possível prolongado, evitando demolição e nova construção.
Por conseguinte, numa perspectiva de sustentabilidade, a situação que
se encontra hoje em Portugal oferece boas oportunidades em duas areas
críticas: a reabilitação de edifícios e a revisão dos standards de conforto
térmico.
A grande maioria dos edifícios existentes em Portugal são (ainda…)
naturalmente ventilados. Apesar das vendas de sistemas de ar condicionado
aumentarem de ano para ano no país (na Grécia este número ascende aos
300% anual para únidades individuais), há ainda tempo e oportunidade
para não deixar progredir esta situação, através do incentivo a uma
correcta reabilitação do espaço edificado, quando necessário. O design
bioclimático dispõe hoje de resposta para a grande maioria das situações,
mesmo as mais difíceis como as "Torres de Vidro" de planos profundos:
é possivel encontrar soluções económicas de compromisso como sistemas
"mixed-mode" (climatização parcial por periodos de tempo, ou em diferentes
espaços), ou "AVAC Solar" (sistema de climatização alimentado a paineis
solares, considerado recentemente num projecto para a reabilitação energética
de um edifício no I.S.T.).
A questão da revisão dos actuais standards de conforto térmico é também
prioritária. Os standards internacionais da ASHRAE ou o ISO 7730 (no
qual o RCCTE se inspira) são contestados por parte muito significativa
da comunidade científica - que defende serem demasiado rígidos, levando
a um excesso de consumo energético, e até em muitos casos a insatisfação
e problemas de saúde dos ocupantes como o SBS. Em alternativa (neste
momento em apreciação pela própria ASHRAE) propõem-se os chamados algoritmos
adaptativos, que consideram o conforto mais dependente do contexto local,
mais flexivel - dando um suporte mais amplo ao uso de arquitectura bioclimática.
Considera-se hoje cada vez de maior importância a integração do ensino
de arquitectura bioclimática em programas de Pós-Graduação e Licenciatura
em Arquitectura e Urbanismo. Seria um contributo metodológico fundamental
no quadro de uma união europeia a caminho do desejado desenvolvimento
sustentável. A prática do design bioclimático contribui de forma determinante
para um grande objectivo da Arquitectura - a melhoria da qualidade de
vida -, podendo constituir uma renovada fonte de inspiração e um desafio
á criatividade de presentes e futuras gerações de arquitectos.
Bibliografia
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September 2000.
- Correia Guedes, Manuel, "Conforto Térmico e Design Passivo
em Edifícios de Escritórios: Um Estudo em Lisboa",
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Proceedings of the 3rd International Postgraduate Research Conference
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- Dascalaki, E.; Santamouris, (1996) M. "Natural Ventilation"
in Passive Cooling of Buildings, ed. Santamouris, M. and Asimakopoulos,
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- Olgyay, Victor (1963) Design With Climate - Bioclimatic Approach
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- Visher, Jacqueline (1989) Environmental Quality in Offices, ed.
Van Nostrand Reinhold, London.
Sistemas de Gestão Ambiental Para Construção
Sustentável Como Factores de Inovação - Resumo
Intervenção
Professor Manuel Pinheiro
11 de Abril de 2005
Sumário
O ambiente encarado não como problema mas como oportunidade,
assim o olhar proactivamente, para o ambiente, tem levado à inovação
e melhoria do desempenho ambiental das organizações. Entre
os sistemas utilizadas, destaca-se os sistemas voluntários, nomeadamente
os sistemas de gestão ambiental, segundo a norma ISO 14001, o
sistema de ecogestão e auditoria, conhecido pelo acrónimo
inglês, Environmental Management Audit Scheme, EMAS ou o análise,
a perspectiva pró-activa para o ambiente, tem originado a nível
nacional, e internacional, múltiplas inovações
ambientais fomentando a diferenciação e competitividade
das organizações no mercado.
Assim, ao longo da sessão serão analisadas as tipologias
de sistemas de gestão ambiental, sua lógica e perspectiva
de melhoria que fomenta a inovação por exemplo na organização
(Golfe Belas Clube de Campo, entre outras) com destaque paras as soluções
de redução e dos consumos de pesticidas e fertilizantes
e de (Ocenário de Lisboa) com um sistema integrado e melhorias
de gestão e desempenho de equipamentos e sistemas.
Entre os vários casos nacionais destaca-se na sessão
em causa, pelas suas diferentes características e particularidades
as tipologias de inovação nas soluções de
gestão ambiental da construção sustentável,
nomeadamente o caso do rótulo ecológico para Alojamento
Turísticos, que em Portugal foi atribuído ao Hotel Jardim
Atlântico da Madeira, que foi passível de ser obtido graças
à adopção de um sistema de gestão ambiental
ISO 14001, bem como a proposta de sistema voluntário para a gestão
da construção sustentável (Lidera) com as possibilidades
de intervenções que podem vir a ocorrer.
Caso de estudo
Sistema de Gestão Ambiental para Hotéis, caso do Hotel
Jardim Atlântico (Madeira)
Bibliografia
- Pinheiro, Manuel Duarte - Manual da Cadeira de Sistemas de Gestão
Ambiental, Capítulo 10. Sistemas para Sustentabilidade e Excelência
Ambiental, 2004.
- Pinheiro, Manuel Duarte, Linhas gerais de um sistema nacional de
avaliação da construção sustentável,
8ª Conferência Nacional do Ambiente, 27 a 29 de Outubro
2004 Centro Cultural de Belém, Lisboa
Websites sugeridos
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